Abaixo artigo Publicado no Diário de Pernambuco, dom 23 out 2011, sobre o filme pernambucano AVENIDA BRASÍLIA FORMOSA
BOM FILME-VERDADE Clóvis Cavalcanti Economista ecológico e pesquisador social
Para quem gosta de entretenimento consistente no Recife, o bem-sucedido Cinema da Fundação representa um brinde. Grandes filmes são lá exibidos. As instalações e equipamentos da sala satisfazem gostos apurados. E há ainda um café anexo, com ambientação cult e serviço atencioso, oferecendo comida e bebida de qualidade. Lugar prazeroso para conversas. É possível encontrar lá pessoas que se destacam pela inteligência – caso do meu amigo Jomar Muniz de Brito, uma referência do pensamento rebelde, freqüentador assíduo da sala. Dirigem a atividade dois bons cineastas, Kleber Mendonça, nacionalmente conhecido, e Luiz Joaquim. Seu trabalho de montagem da programação é impecável. Agrada em cheio. Não sou crítico de cinema. Apenas me encanto ou decepciono com filmes que vejo (fujo de fita americana cheia de efeitos especiais, por exemplo). Recentemente, assisti no Cinema da Fundação a uma película nova e, para mim, sedutora – Avenida Brasília Formosa, dirigida por jovem cineasta pernambucano, Gabriel Mascaro. Sem ser entendido em sétima arte, classifico o filme como cinema-verdade. Ele trata do mundo real no bairro recifense de Brasília Teimosa a partir de quatro personagens principais, que representam a si próprios. Fábio é evangélico, garçom e faz vídeos dali. Registra importantes eventos. Ele é contratado por uma jovem manicure, Débora, moça cheia de vida, alegre, simpática, bonita, para fazer um videobook dela e ajudá-la em sua obsessão: tentar uma vaga no (famigerado) Big Brother. É o caminho para uma ascensão social por ela vislumbrado. Conversando com as amigas, idéias picantes também surgem quanto a esse reality show. Isso, aliás, enriquece o filme, ao mostrar cenas da vida de pessoas comuns. Fábio também filma o aniversário de 5 anos de Cauan, que é fã do Homem Aranha e um terceiro personagem da montagem. Já o pescador Pirambu, o quarto personagem, era de Brasília Teimosa, mas vive agora (pior do que antes) num conjunto residencial no Cordeiro, construído pelo governo para abrigar a população que morava nas antigas palafitas do bairro, de onde surge a Avenida Brasília Formosa. Mostrando a vida dessas pessoas, seus relacionamentos, suas percepções, seus projetos, Gabriel Mascaro presta enorme serviço. Cumpre-o com encanto e arte. Até a mediocridade da vida em ambientes tão limitados, inclusive fisicamente, é superada pela arte de viver das pessoas filmadas. Aliás, a obra permite inclusive comparar a mediocridade arquitetônica da classe alta (as torres do Cais de Santa Rita se destacam como monumentos de feiúra agressiva nos cenários filmados) com as soluções mais humanas da população de baixa renda. Pena que pouquíssima gente vá a um espetáculo de cinema como esse, dispondo, porém, de pachorra e tempo ilimitado (quase 200 horas) para novelas idiotas que a televisão transmite, a exemplo de uma que acabou há pouco e mostrava até dinossauros se bulindo. Arte verdadeira não vai bem numa sociedade inculta. Assim, pelo menos, é que Paulo Prado escrevia de nosso país em Retrato do Brasil. |
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